segunda-feira, 20 de junho de 2011

Sim eu amei-te

Amei te é passado ome.

Desculpa, digo, mas se eu não vou tocar em ti agora vou perder toda a naturalidade, não conseguirei dizer mais nada, não tenho culpa, estou apenas  a sentir me  sem controle, não me entendas  mal, não me entendas  bem, eu só estava sem  vontade.É  simples de estender o braço tocar em ti. Faz tempo demais que estamos aqui parados a conversar nesta janela, já dissemos tudo que podia ser dito entre duas pessoas que estão tentando se conhecer, tenho a sensação/impressão/ilusão de que nos compreendemos, agora só preciso estender o abraço e, com a ponta dos meus dedos, tocar te , natural que seja assim: o toque depois da compreensão que conseguimos.   Não diz nada, tu não dizes  nada. Apenas olhas  para mim, sorri. Quanto tempo dura? Há pouco caiu uma estrela e fizemos, ao mesmo tempo e em silêncio, um pedido, dois pedidos. Pedi para saber tocar te. Tu não me contas  os teus  desejos. Sorri com os olhos, com a mesma boca que mais tarde, um dia, depois daqui, poderá me dizer:não.Há uma espécie de heroísmo, então quando estendo o braço, alongo as mãos, abro os dedos e brota. Toco. Perto da minha  boca se entreabre lenta, úmida, cigarro, chiclete, vodka, vermelha, os dentes quase se chocam de tanta vontade. Amanhã não sei, não sabemos.Pensei em ti. Eram exatamente três da tarde quando pensei em ti.Sei, porque sacudi a cabeça como se tu fosses uma tontura dentro dela e olhei para o relógio da cozinha. Ah, no fim destes dias de início de inverno, entre os engarrafamentos de trânsito, as pessoas enlouquecidas e a paranóia à solta pela cidade, no fim destes dias, encontrar te  e sorrio, que me abre os braços, que passa a mão pelo meu rosto, pelos meus cabelos na minha cabeça confusa, que me olha no olho e me permite mergulhar na curva do teu ombro.    Tu me aquieta repetindo que está tudo bem, tudo, tudo bem. O telefone toca três vezes. Isto é uma gravação deixe seu nome e telefone depois do bip que eu ligo assim que puder, ok?O cheiro do teu corpo persiste no meu durante dias. Guardo, preservo, cheiro o cheiro do teu cheiro grudado no meu. E basta fechar os olhos para mergulhar novamente em ti. Alguma coisa então pára, todas as coisas param. Os automóveis nas ruas, os relógios nas paredes, as pessoas nas casas, as estrelas que não conseguimos ver aqui do fundo da cidade escura. Olho no poço do teu olho claro, meia-noite em ponto. Quero fazer um feitiço para que nada mais volte a andar. Quero ficar assim, no parado.Fala fala fala. Estou muito cansada. Já não identifico nenhuma palavra do que tu dizes. Apenas me deixo embalar pelo ritmo da tua  voz, dentro dessa melodia monótona angustiada perplexa repetitiva.Quase três da manhã. Não temos aonde ir, nunca tivemos aonde ir."Vamos parar por aqui". "Quero acordar cedo, caminhar no parque... Estou muito cansado". "Não fazes assim, não digas  assim". "Eu tenho medo". "Medo é culpa, medo é moral. Não vês que é isso que eles querem que tu  sintas? Medo, culpa, vergonha..." "Eu aceito, eu me contento com pouco". "Eu não aceito nada nem me contento com pouco".Eu quero muito, eu quero mais, eu quero tudo. Eu quero o risco. Nada mais importa. Agora tu  me tens, agora eu te tenho.Nada mais importa. O resto? Ah, o resto são os restos. E não importam.Larga tudo. Vem comigo para qualquer outro lugar. Agora, já. Peço e peço e não digo nada, mas peço e peço diz, diz já, diz agora, diz assim.Desculpe, mas foi só mais um engano? E amanhã não desisto: te procuro em outro corpo, juro que um dia eu encontro.

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